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O dia-a-dia em pequenas doses numa carta escrita para atravessar o Atlântico.
Ela diz que a filha da Primavera sussura. Fala baixinho, muito baixinho. Um sorriso tímido porque, afinal, é um bocadinho envergonhada. Mas só no colégio. Em casa, ela canta, de manhã à noite, fala e grita e faz vozes para cada uma das bonecas. Diz coisas de criança, como a Rapunzel é tosta e a Pocahontas é bolacha. Coisas boas, portanto. Porque ela parte sempre pedaços de tosta quando come a sopa. E adora bolachinhas ao lanche. Aos 4 anos apercebemo-nos que já não há bebés cá em casa. Nem os nenucos que, a esses, ninguém ligou por aqui. É uma sensação estranha. Saber que já é menina. Que se senta correctamente às refeições, que come na perfeição de garfo e faca, que agradece. Que é educada em tudo. Que é inteligente e interessada. Que é meiga, doce, irresístivel. Eu sei que ela é envergonhada no colégio. Não faz mal. Já disse isso à Hélia. Não me preocupo com isso. No colégio também não há tostas para pôr na sopa! As diferenças são boas. E desde pequeninos parece ser inata a capacidade de darmos apenas de nós aquilo que queremos. E, na verdade, todos nós, em algum momento, já sentimos as bochechas coradas. Um dia, a Hélia vai vê-la no colégio como ela é em casa. Mas isso acontecerá naturalmente ou quando ela quiser. Mas só uma educadora que conhece verdadeiramente a minha filha escreveria no final do relatório de apreciação global: "É uma menina muito doce, muito meiguinha, uma princesa".
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