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O dia-a-dia em pequenas doses numa carta escrita para atravessar o Atlântico.
Ontem revirei o armário do meu antigo quarto. Encontrei o vestido que usei no baile de finalistas. Na altura foi assim uma coisa a que não liguei mesmo nada. Mas ao olhar novamente para o vestido achei que tinha tudo a ver comigo. Como um pedaço de tecido pode dizer tanto. As miúdas passearam-se com ele pela casa. De tão comprido que lhes ficava, fazia uma cauda que arrastavam. Mais tarde, guardei-o. Não adormeceram sem antes perguntarem ao pai se conhecia o vestido. Claro que o pai já não se lembrava. A minha filha de Verão ouve tudo, mesmo quando não parece ouvir. Perguntou-me se no baile de finalistas eu estava nervosa como naquele dia em que fiz uma sessão fotográfica! Na imaginação dela, vê de certeza um palacete enorme e todos a dançar ao som de música clássica!
Hoje não há sol e não se passa nada. O problema do desemprego numa profissão como a de jornalista é que se morre um bocadinho. Do que sinto mais falta? Da confusão. De ter uma agenda para seguir todos os dias. De ter a oportunidade de conhecer pessoas surpreendentes. De poder viajar. De poder escrever com rigor para que uma pessoa (basta uma) possa ler e ficar satisfeita com o que leu. Há um mundo que desaparece aos poucos. Não há e-mails. Não há telefonemas. Não se marcam serviços na Agenda. Não se coordenam trabalhos. Não se debatem temas. Não se discute com os colegas.
Acho que fiquei com as ideias. Com o vestido do baile. Bordeaux (que se usa tanto outra vez!). E com a certeza de quem eu sou.
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