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O dia-a-dia em pequenas doses numa carta escrita para atravessar o Atlântico.
Os dias cinzentos são mais melancólicos. Quando cheguei a casa, ele contou-me aquilo que me pareceu ser um reencontro de irmãos. Fiz-me quase desinteressada quando o que eu queria era saber todos os pormenores, cada detalhe. "Mas tocaste à campainha?" Tinha medo de o assustar. Mas como o dia estava melancólico, ele também se enchia de palavras e de figuras que eu imaginava de imediato na minha cabeça. As mesmas imagens que via quando era pequena. Diz que ele estava com bom aspecto. E que até acabaram por ir almoçar ao antigo "Nando" onde o avô Zé todos os dias, sem falta, lia o jornal. Achei tão bonito. Imaginá-los depois dos 50 anos, os dois, ali sentados, entre uma sopa e um bacalhau espiritual. Uma cerveja partilhada. Um café a terminar a refeição. E conversas, palavras soltas entre irmãos que, de igual, têm uma coisa que não consigo descrever. "E ainda tem muitos gatos?", perguntava eu. Os dias cinzentos têm qualquer coisa de trazer o coração de volta. E, hoje, fica um pouco mais da certeza de que a vida dá muitas voltas. E quando menos esperamos podemos ser surpreendidos pela pessoa mais improvável. Eu, pela minha parte, fiquei feliz e continuei a fazer perguntas.
"E a casa? Deve estar um bocado ao abandono, não?"
"E o jardim???"
"Ele, está muito magro?"
"E o Nando é no mesmo sítio?"
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